Tenham filhos

Outubro 6, 2018

Se eu pudesse dar só um conselho aos meus amigos, seria este: tenham filhos. Pelo menos um. Mas se possível, tenham 2, 3, 4… Irmãos são a nossa ponte com o passado e o porto seguro para o futuro. Mas tenham filhos.

Os filhos fazem-nos seres humanos melhores.

O que um filho faz por nós nenhuma outra experiência faz. Viajar o mundo te transforma, uma carreira de sucesso é gratificante, independência é delicioso. Ainda assim, nada te modificará de forma tão permanente como um filho.

Esqueçam aquela história de que filhos são gastos. Filhos tornam-nos uma pessoa com consumo consciente e económico: passamos a comprar roupas na Renner e não na Calvin Klein, porque no fim, são só roupas. E os ténis do ano passado, que ainda estão novinhos e confortáveis, duram 5 anos… Temos outras prioridades.

Passamos a trabalhar com mais vontade e dedicação, afinal, existe um pequeno ser totalmente dependente, e isso torna-nos um profissional com uma garra que nenhuma outra situação nos daria. Filhos fazem-nos superar todos os limites.

Começamos a preocupar-nos em fazer algo pelo mundo. Separar o lixo, trabalho comunitário, produtos que usam menos plástico… Nós somos o exemplo de ser humano dos filhos, e nada pode ser mais grandioso que isso.

A alimentação passa a importar. Não dá para comer chocolate com coca-cola e oferecer banana e água para eles. Passa a cuidar melhor da sua saúde: come o resto das frutas do prato deles, plantamos uma horta para ter temperos frescos, exterminamos os refrigerantes durante a semana. Um filho dá-nos uns 25 anos a mais de longevidade.

Passamos a acreditar em Deus e a aprender como rezar. Na primeira doença do nosso filho, quase como instinto, dobramos os joelhos e pedimos a Deus que olhe por ele. E assim, os filhos ensinam-nos sobre fé e gratidão como nenhum padre/pastor/líder religioso jamais foi capaz.

Confrontamos a nossa sombra. Um filho traz à tona o nosso pior lado, quando ele se atira para o chão no mercado porque quer um pacote de biscoitos. Temos vontade de gritar, de bater, de sair correndo. Vemo-nos agressivos, impacientes e autoritários. E assim descobrimos que é só pelo amor e com amor que se educa. Aprendemos a respirar fundo, a baixarmo-nos, estender a mão para o nosso filho e ver a situação através dos seus pequenos olhinhos.

Um filho faz-nos ser mais prudentes. Nunca mais conduzimos sem cinto, ultrapassamos de forma arriscada, pelo simples fato de que não podermos morrer (não tão cedo)… Quem é que criaria e amaria os nossos filhos da mesma forma na nossa ausência?! Um filho faz-nos, mais do que nunca, querer estar vivos.

Mas, se ainda assim, acharem que estes motivos não valem a pena, que seja pelo indecifrável que os filhos têm.

Tenham filhos para sentirem o cheiro dos seus cabelos sempre perfumados, para terem o prazer de pequenos bracinhos ao redor do pescoço, para ouvir o seu nome (que passará a ser mãe ou pai) a ser falado ou cantado naquela voz estridente.

Tenham filhos para receberem aquele sorriso e abraço apertado, quando chegam a casa, e sentirem-se a pessoa mais importante do mundo. Tenham filhos para ganharem beijos babados. Tenham filhos para vê-los sorrir como vocês, caminharem como o pai, e entendam a preciosidade de se ter uma parte nossa solta pelo mundo. Tenham filhos para reaprender a delícia de um banho cheio de espuma, de uma bacia de água no calor, de rolar com o cachorro, de comer manga sem se limparem.

Tenham filhos.

Sabendo que muito pouco ensinaremos. Tenham filhos justamente porque têm muito a aprender. Tenham filhos porque o mundo precisa que nós sejamos pessoas melhores ainda nesta vida.”

Adaptação e tradução do texto “Tenham filhos” de Bruna Estrela

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