Isto são boas notícias! Esta foi a minha primeira reacção depois de ler, outro dia, o título de um artigo de jornal: «Homem brasileiro criou um parque para crianças com necessidades especiais». Que boa ideia, pensei. Para logo de seguida ficar triste.
A notícia é sobre um parque infantil público pensado para crianças com dificuldades físicas ou de locomoção, escreve o jornalista. Não é em Portugal mas no Brasil, mais precisamente em São Paulo. E, por incrível que pareça, trata-se do primeiro parque do género na cidade, penso até que no país.
E foi isto que me deixou pasmada (e triste). Por diversos motivos. Desde sempre existiram deficientes, porque nasceram assim (razões congénitas) ou porque ficaram assim (acidente ou doença). Muito antes de existirem parques de diversões. Então, porquê só agora um parque para crianças com dificuldades de locomoção ou outras deficiências?
Neste caso, a ideia do parque especial partiu de Rudolfo Henrique Fischer, um analista financeiro que considera errado usar a palavra incluir, pois, diz, nenhuma criança deve ser excluída. Ele criou 15 brinquedos adaptados, desde camas elásticas a see-saw, baloiços a outros jogos lúdicos. Que bom. Mas, se nenhuma criança deve ser excluída, porquê um parque só para crianças com “necessidades especiais”?
O desapontamento maior foi este. Ora bolas, os meus filhos são crianças com necessidades especiais. Eu sou uma criança (um bocadinho crescida, é verdade) com necessidades especiais. A Maria é uma criança com necessidades especiais. A Mãe da Maria é uma criança com necessidades especiais. Todos os pais e todos os fihos têm necessidades especiais e brincar é uma delas. Uns com os outros, de preferência. Então, porque não misturar brinquedos, brinquedos adaptados com brinquedos comuns? A partilha seria muito mais verdadeira e enriquecedora.
Em Portugal – no Brasil não sei -, a lei prevê que todos os edifícios públicos reúnam iguais condições de acesso para pessoas ditas normais e com necessidades especiais (uma expressão da qual não gosto). E, no entanto, nunca me tinha ocorrido isto: os parque infantis não estão preparados para infantes com deficiência. Estaremos assim tão de costas voltadas para falhar numa coisa básica e achar esta uma boa notícia? Bem, vamos ser optimistas: se não estamos, isso é uma boa notícia. Se estamos, esta é também uma boa notícia. De uma ou de outra maneira, vamos lá fazer parques infantis para todos?
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