Inclusão, uma questão de atitude e vontade política

Setembro 28, 2016

A sociedade portuguesa devia estar mais atenta ao artigo 24º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Este artigo, sobre o direito à educação, é de máxima importância para a educação para a diversidade humana dos nossos futuros governantes. Se até hoje, ainda não fomos capazes de entender e resolver este tema, se prepararmos os nossos filhos eles terão, com toda a certeza, a capacidade de lidar e gerir de forma natural a inclusão.

Muitas das nossas organizações locais que trabalham a área da deficiência foram fundadas por pais, porque os seus filhos em algum momento foram excluídos da escola. Então as familias criaram as primeiras escolas para educar crianças que tinham deficiência. Estas escolas ensinaram duas coisas a essas famílias: a primeira, é que os seus filhos eram realmente capazes de aprender. E a segunda, que ser educado longe dos seus colegas sem deficiência só os preparava para uma vida de segregação.

É do conhecimento geral que as escolas inclusivas são as melhores para todas as crianças, porque aprender em conjunto ensina os alunos a valorizar a diversidade, constroi capital social, e ergue as fundações para comunidades inclusivas.

Para que a inclusão seja bem sucedida é necessário uma abordagem por parte de toda a escola que respeite múltiplas inteligências, e não uma abordagem baseada apenas em modelos. Colocar em prática instrução diferenciada, usar o desenho univeral para a aprendizagem, incentivar a colaboração e oferecer apoio aos professores,  para aumentar a qualidade do ensino para todos os alunos.

Portugal precisa de mudar de atitude e olhar para as histórias de sucesso mundiais. Quanto mais programas especiais forem criados para grupos particulares de crianças com deficiência, menos recursos teremos para transformar e fortalecer o sistema regular. E enquanto existirem programas especiais, as escolas encontrarão sempre estudantes para preenchê-los.

Os países nem sequer têm recursos para sustentar estes dois sistemas, um segregado e outro inclusivo. A única maneira de conseguirem pagar pela inclusão é eliminar progressivamente os programas especiais e investir na transformação que vai viabilizar a inclusão.

Muitos países estão a “patinar” com os seus compromissos de inclusão apoiando modelos segregadores. Esta missão não é fácil, mas os pais do futuro não merecem crescer a aprender que a deficiência é uma parte natural da condição humana?

A educação inclusiva é um direito que todas as crianças (com ou sem deficiência) têm. Ter um sistema separado onde as professores podem mandar qualquer criança, que representa um desafio, para a segregação do ensino especial, permite (ainda) ao sistema regular, abdicar da responsabilidade de servir todas as crianças da mesma forma.

O artigo 24 da Convenção, mais do que qualquer outro artigo, tem o poder de modelar os futuros cidadãos do mundo e criar uma sociedade que represente as aspirações daqueles que escreveram o documento. Espero que todos juntos, aqui em Portugal, em breve consigamos atingir este objectivo.

A mãe da Maria (Ana Rebelo)

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