Quem partilhe um momento com a Maria tem de imediato uma sensação de calma e boa disposição fora do comum. É feliz, está bem consigo própria, emana alegria! Adora sorrir, não dispensa o “Olá, tá boa?”, abraça sem medos, solta sempre as palavras que lhe vão na alma. Quem não conhece a sua história, não imagina as batalhas que venceu para hoje estar por aqui a espalhar toda esta magia!
Ainda antes de nascer, apenas lhe davam 48 horas de vida por um problema grave no coração. Após ultrapassadas as 48 horas, avançou sem que ninguém conseguisse explicar o como nem o porquê. Com um mês (e apenas 1.750kg) fez uma cirurgia ao coração. Seguindo o seu caminho sempre internada e saltando de hospital em hospital, aos cinco meses e ainda com 2.500kg voltou ao bloco e enfrentou uma complicada cirurgia a uma hérnia do hiato e a aplicação de uma gastroestomia.
Quando finalmente pensávamos que a Maria estava estabilizada e vinha para ficar…ao terceiro dia em casa, deitei-a para lhe mudar a fralda e reparei que dentro do olho direito havia uma espécie de massa branca. Pensei que estava a delirar…lembro-me do pânico, de falar com várias pessoas de agarrar no telefone e ligar para toda a gente, marcar uma consulta urgente para o oftalmologista.
Quando lá chegámos, o médico sentou-a ao meu colo começou a observação…virou a luz para o olho e…fez-se aquele silêncio, olhou para nós, sentou-se e baixou a cabeça. Não precisou de falar para que nesse preciso momento percebece-mos que algo muito mau por aí vinha. Após Ecos, TAC´s lá estava um maldito tumor gigante…a doença que nunca deveria calhar a ninguém, muito menos a uma bebé de sete meses.
Sentimos o cancro como uma bomba relógio, quanto mais cedo o tumor fosse extraído, maior probabilidade de sobrevivência…daí até chegarmos à Suiça, foi um pulo. A extração foi feita, parecia que tudo estava a correr pelo melhor e na primeira noite em que veio dormir ao hotel, entrou em paragem cardíaca…mais um desespero! Lembro-me dos médicos nos chamarem a uma sala e no caminho…um silêncio absoluto…só pensava já foi, já foi, por favor digam já!!! Mas não, o médico chamou-nos para dizer que já tinham tentando tudo e que a última esperança seria fazer uma terapia de inalação de um determinado medicamento, mas que lhe iria queimar mais umas células cerebrais. A nossa reação foi imediata. Faça, mas faça já, por favor. No desespero entre a vida e a morte nada é mais importante que a sobrevivência, não interessa mais nada!!!
O tratamento foi feito e na manhã seguinte, uma enfermeira bateu-nos à porta da sala onde estávamos a descansar e só nos disse venham, venham rápido… Mal entrámos nos Cuidados Intensivos, ouvimos umas gargalhadas que vinham da cama da Maria, sim a Maria tinha sobrevivido e ria às gargalhadas, ainda que muito inspirada pela quantidade de morfina que lhe estavam a administrar, acordou e mais uma vez a sorrir.
Finalmente conseguimos que viesse para Portugal, fazendo a viagem monitorizada e com acompanhamento médico. A viagem foi outra aventura, mas cá chegámos e tudo apontava para que finalmente viesse para casa, apenas teria que ficar internada durante mais uns dias.
Faltavam apenas os resultados das biópsias feitas na cirurgia, que chegariam em alguns dias da Suíça e que nos ditariam se teria ou não que fazer quimioterapia. Tudo apontava para que não… e os médicos até punham em causa se o coração dela aguentaria.
Chegaram e mais uma vez o pior, a Maria tinha que fazer seis ciclos de quimio, o tumor tinha-se espalhado! E agora, faz-se ou não se faz? Aguenta ou não aguenta? Faz! Claro que FAZ! …e lá avançámos. O piso sete do IPO é o pior pesadelo que pode passar na vida de uns pais. À chegada somos logo alertados para que 60% das crianças que entram sobrevivem, mas 40% já não saem…um autêntico jogo de roleta.
Entre muitas complicações desde Sépsis, a tudo o que possam imaginar se passaram naqueles meses de quimioterapia, sustos, muita dor, muito incómodo, mas a Maria nunca, mas nunca deixou de sorrir. Lembro-me de um dia estar com ela durante um tratamento…os químicos a entrarem-lhe directamente na veia, ela cinzenta, já sem cabelo, com umas olheiras profundas de sofrimento…fixei-a e não aguentei, as lágrimas escorriam-me só de observar tanto sofrimento e de me sentir uma autêntica inútil! De repente a Maria tocou-me no braço, olhou-me bem no fundo dos olhos e abriu um enorme sorriso!!! Não imaginam a vergonha que senti, a Maria estava a sofrer e ainda tinha a capacidade de me confortar.
Tudo evoluiu, tudo avançou, as boas notícias começaram a chegar e aos 18 meses finalmente a Maria veio viver para a sua casa! Tudo isto e muito mais se passou nos conturbados primeiros 18 meses de vida da Maria, mas ela venceu cada uma das batalhas, sempre empunhando a maior arma que possui…o seu grande e admirável sorriso. É uma Guerreira? Não! Uma verdadeira força da natureza!
Pel´A mãe da Maria
7 Comentários
Estive a ler esta pequena síntese da vida da Maria e compreendi instantaneamente que ela é uma lutadora uma menina de imensa coragem e cheia de amor e felicidade. Obrigada por partilhar estes pequenos episódios da vida da Maria pois ao ler isto sinto que ganhei muito. Parabéns aos Pais da Maria que estiveram constantemente com ela dando-lhe amor incondicional e muita felicidade transmitindo-lhe força e coragem pois se ela conseguiu ultrapassar estas barreiras que lhe foram impostas pela vida também foi graças a vocês.
Fiquei comovida .Como um ser tão pequeno é capaz de suportar tanto sofrimento.Como num momento de dor profunda conforta a mãe em sofrimento.Estas crianças, como a Maria, são mais profundas, sentem mais, para além da sua própria dor, para sofrer as dores dos outros e as confortar: a dor da sua mãe querida.Aquele momento em que procurou instintivamente o dedo da sua filha na encubadora e em que ela o segurou foi o toque de amor para toda a sua vida, que ela não vai esquecer nunca; e acredite, que por a amar tanto e não a crer ver sofrer, a Maria não se deixa morrer e quer viver só para a ver sorrir para ela.E a Maria sabe, na sua simplicidade de ser, que estar viva com o amor da família, é mais importante do que viver a sofrer e sorrir sempre é o testemunho que dá da sua felicidade, a quem ama de verdade.É importante que o seu Blog e as histórias de vida vivida contadas nele cheguem a muitas casas, famílias em desespero, porque ele é um testemunho de que através da partilha de vivências nos podemos ajudar uns aos outros em momentos de dor e aprender a sorrir para a vida, como faz sempre a Maria.Desejo a toda a família momentos muito felizes, como o do pequeno almoço na cama,no dia da mãe, com a “tropa” toda alinhada em desalinho a entrar pelo quarto logo pela manhã.
Olá Maria Cristina,
Fiquei comovida com o seu comentário. A missão do blogue passa mesmo por fazer chegar a mais famílias e partilhar com elas as histórias e vivências da Maria, que sem dúvida é uma criança feliz e inspiradora. Muito obrigada e vamos mantendo contato. Um grande beijinho
Olá Susana,
A Maria é realmente uma lutadora, corajosa e que espalha felicidade. qualquer coisa, por muito pequena que seja a faz sorrir. Ensina-nos que nada é melhor e mais reconfortante que um abraço e um “olá”. Obrigada pelo seu comentário e um grande beijinho.
Olá novamente,
Ainda me está a custar respirar…tanta emoção e tanta parecença da Maria com o Rodrigo tornam estes textos uma revelação para mim. Por mais que estas crianças estejam à beira do abismo elas agarram-se à vida com a força que nenhum de nós (adultos ditos normais) teria. Por hoje não falo mais de nós…obrigada por ter criado este blogue e muita sorte para o futuro em especial o da Maria.
Beijinhos
Sou fã da Maria e sua tbm Ana! Me emociono com as histórias, vivo um pedacinho delas qdo as leio. Atualmente vivemos eu e meu marido no hospital com nosso pequeno guerreiro Gabriel, q tbm está lutando pela vida e vencendo. Em breve tenho certeza q iremos pra casa. A história da Maria muito me insira! Grande abraço carinhoso pra vc e um bem apertado na Maria.
MUITA emoção!!!! Esses guerreiros, são únicos e tão…. Tão inexplicáveis!!! Maria linda beijos da tia desconhecida e chorona!!!! Beijos meus e do MiG meu pequeno grande guerreiro!!!! Nasceu de 28 semanas teve de tudo e mais um pouco!!! Hj ele está aqui!!! Vivo, subcego e autista!!! Mas está aqui!!!