A Maria gosta tanto de gelatina, que não podem imaginar. Para terem uma noção do tamanho desta paixão, foi uma das primeiras palavras que disse. Pensando bem foi um bocadinho chantageada por mim. Um dia dei por mim a pensar se a gelatina está para a Maria, como o chocolate está para mim, se calhar ela vai conseguir dizer e pedir que lhe dêem a gelatina, será?
Começámos o treino diário! No final de cada refeição, ela apontava para o frigorifico e abria um grande sorriso. Respondíamos – Maria queres gelatina? Vá, então pede Ge-la-ti-na. De imediato começava a acenar com a cabeça a dizer que sim. Nos primeiros dias não nos ligava nenhuma, mas a cada dia que passava levávamos mais tempo para lhe fazer a vontade. Cada refeição era uma “dança”, a Maria a apontar para o frigorifico, e nós a olharmos uns para os outros a ver quem é que cedia primeiro.
A Maria como mestre, que é, em gestão de sentimentos descobriu que o pai não aguentava. Arranjou uma nova estratégia, em vez de apontar para o frigorifico, chamava – Paiiiiii! Começava com o seu charme e (sem falar) lá conseguia a sua gelatina. Certa noite em que o pai não estava, combinei com os irmãos – só tiramos a gelatina do frigorifico se ela pedir e não há desculpas. Ok? E assim foi. A Maria fez charme, apontou para o frigorifico, chamou o pai, fez “trinta por uma linha” e nós, nada! Aguentámos e não cedemos. Apenas lhe dizíamos – Maria queres gelatina? Então pede Ge-la-ti-na! Mais de meia hora depois a Maria já vencida pelo cansaço, de um momento para o outro olhou para nós e disse em voz de desespero – GELATINAAAA!
Levantei-me, fui a correr ao frigorifico, tirei a gelatina e pus à frente dela como se tratasse do maior dos prémios existentes à face da terra! A salva de palmas veio logo de seguida. Não sei quem ficou mais feliz naquele momento se fomos nós se foi a Maria, mas a partir desse dia, aprendemos todos e nunca mais esquecemos – acreditar é a chave para alcançar! A Maria ensina!
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