Nesta quarentena, quando todos reclamavam que nada acontecia, aconteceu tudo.
Fechados tememos o terrível vírus, ouvimos a contabilização diária de mortos e (em surdina) rezámos para que não calhasse aos nossos. E diáriamente falámos com a família, colegas e amigos, uns mais depressivos que outros, cada um com a sua própria opinião e razão.
Mas quando estamos fechados, as cabeças disparam e…eu tenho medo!
E depois chegam as notícias de desgraças e o choque dos suicidios que estão a assular o país e o mundo. E eu ainda tenho mais medo!
Desde cedo que tive contacto com a depressão. Para além da minha mãe sofrer durante anos, mergulhada nesta doença, outros muito próximos, vivem com esta tormenta.
Durante a minha vida foram muitas as vezes que ouvi falar em suicídio. A minha reação é sempre a mesma, fico paralisada e dias depois tenho um ataque de pânico.
Tenho medo!!! Fico sem saber o que fazer…
Não julgo, mas não consigo entender a coragem/cobardia de alguém que tira a sua própria vida e ainda menos daqueles que afirmam constantemente que o vão fazer.
Quem me conhece, sabe que o que mais me magoa é a dor dos outros. Faço o possível e impossível para que ninguém à minha volta sofra. Se calhar é por isso que por muito que pense, não consigo entender quem ceifa a própria vida, deixando os próximos mergulhados na mais profunda dor – a da perda injustificada!
Vivemos numa ditadura de bem estar. Todos temos de estar no minimo bem ou mesmo “lindamente”. Temos de estar sempre a sorrir e de bem com a vida…e problemas não podemos mostrar.
E eu tenho medo!!! Porque os problemas existem e não nos podemos enganar…
Chega! As nossas vidas não precisam de ser uma montra de rede social. Não somos perfeitos, bolas!
Todos temos problemas, sejam de que ordem for. Mas para os resolver, temos de os assumir. Tapar o sol com a peneira só nos vai iludir…
Hoje estou bem, tudo bem! Mas amanhã posso estar mal – e tudo bem na mesma. Temos o dever e a obrigação de sermos verdadeiros connosco e com os outros!
Já pensaram que nesta ditadura do “lindamente” só saem a ganhar aqueles que causam dor e tormenta aos outros?
E eu tenho muito medo…que continuemos todos a assobiar para o ar, porque se assim avançarmos, esta onda não vai parar.
A mãe da Maria (Ana Rebelo)
1 Comentário
Amei o seu desabafo, infelizmente já passei por isso, e foi graças a um amigo em comum que recuperei! Já tive uma recaída, no entanto consegui erguer a cabeça! Obrigada