É preciso estarmos com gente

Novembro 25, 2018

Talvez a dificuldade em pedir desculpa, seja uma das características mais comuns dos seres humanos. E, ultimamente, neste contexto de contendas virtuais, em que muitos se sentem donos da razão, reconhecer o próprio erro torna-se um artigo de luxo.

Estamos a afastar-nos demais, cada vez com menos tempo para cultivar relacionamentos humanos, de assoberbados que estamos com tarefas mecânicas e com trabalhos acumulados. Para que possamos consumir, não nos resta muito tempo para conversar com a família, com os amigos. Enquanto nos distanciamos do que é humano, por dentro vamos ficando menos humanos, menos sentidos, menos gente.

É preciso estarmos com gente para sermos mais essência do que aparência, mais sentimento do que ostentação.

Porque o tanto de coisas que compramos vai-nos coisificando, tornando o nosso íntimo frio, assim como as quinquilharias que nos cercam. Centrados em nós, achamos que o nosso mundo é a única verdade que existe.

Queremos ter razão, queremos ser melhores, queremos prevalecer. Queremos que as nossas vontades sejam satisfeitas, temos pressa em comprar, em ter, somos impacientes. No entanto, dar-mo-nos com alguém requer tempo, desprendimento, concessão e troca.

Só quando nos vê-mos com os olhos do outro, somos capazes de perceber os nossos erros. Só quando saímos do nosso eu, conseguimos perceber o alcance do que fazemos e falamos, descobrindo que nem sempre temos razão. Por isso é tão raro quem pede desculpas, porque há muitos que arranjam pretextos para manter a falsa ideia que possuem de si mesmos.

A mãe da Maria (Ana Rebelo)

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