Dedo apontado e olhar fixado – por Nita Domingos

Dezembro 15, 2015

Se há algo que me faz confusão é quando apontam o dedo.

Falo quando pessoas “normais”, crianças “normais”, vêem alguém diferente e apontam o dedo e fixam o olhar de tal maneira que são flechas no nosso coração.

Nesses minutos vocês lembram-nos do nosso sofrimento, das nossas operações, dos nossos tratamentos e das vezes que nos impuseram limites.

Não queremos ser o centro das atenções, queremos ser apenas nós e viver em paz.

Isto acontece em meios mais pequenos, em educações diferentes e claro curiosidade.

Mas também porque não são educadas para as diferenças e para o respeito. Em pleno século XXI temos de mudar isto urgentemente.

Acontece-me em vários sítios, ficarem a olhar para mim sem se mexerem, a ver que tenho um olho para cada lado e mais uma data de coisas.

Olham para nós como se fossemos doentes, fantasmas, parvos e estúpidos.

Já para não falar daqueles que gozam e magoam.

Nunca sofri na pele essa descriminação do gozar, talvez porque eu mesma me ria de mim e desdramatizava as coisas.

Nunca escondi a minha saúde, nunca fiz dela tabu.

Sempre fui a psicóloga dos amigos e nunca admiti que me reduzissem por não ouvir ou por não ver tão bem como eles.

Nunca deixei.

Agora quando vejo crianças e pais a viver numa redoma, que parece que afastam as crianças de pessoas doentes, de deficientes e etc… a minha vontade é falar. Porque é injusto, porque o Sol quando nasce é para todos, que não somos melhores nem piores que ninguém, mas por favor evitem fixarem-nos todos nos olhos durante minutos e segredar aos ouvidos uns dos outros.

Nós sentimos isso. E por muita auto-estima que tenhamos, isso magoa-nos.

Queridos pais, no jantar de Natal reúnam as vossas crianças, falem das diferenças sem medos, desdramatizem e não façam tabu, normalizar é incluir. Apresentem gordos, magros, cegos, surdos, deficientes, mudos, tetraplégicos e todo o tipo de diferenças e ensinem-nas a lidar com isso ou pelo menos, a respeitar sem olhares fixados e dedos apontados.

Acreditem não fomos nós que escolhemos as nossas doenças.

Respeitar é incluir.

E não se esqueçam, estamos todos sujeitos ao mesmo.

Façam a vossa parte! Deem esse presente de Natal.

O mundo agradece!

E nós também!

Nita Domingos

Também Poderá Gostar

1 Comentário

  • Responder Paulo Dezembro 16, 2015 em 11:16

    Palavras sentidas … fiquei com uma lágrima no canto do olho 🙂 Sou tio de um menino especial e pai de dois filhos e na nossa família sentimos estas palavras como sendo as nossas. Falar das diferenças é o primeiro passo para a tão desejada inclusão mas, para que esta se concretize, é necessário que, desde o Estado aos media, todos encarem esta questão sem tabus !

  • Deixar Comentário

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.