Se há algo que me faz confusão é quando apontam o dedo.
Falo quando pessoas “normais”, crianças “normais”, vêem alguém diferente e apontam o dedo e fixam o olhar de tal maneira que são flechas no nosso coração.
Nesses minutos vocês lembram-nos do nosso sofrimento, das nossas operações, dos nossos tratamentos e das vezes que nos impuseram limites.
Não queremos ser o centro das atenções, queremos ser apenas nós e viver em paz.
Isto acontece em meios mais pequenos, em educações diferentes e claro curiosidade.
Mas também porque não são educadas para as diferenças e para o respeito. Em pleno século XXI temos de mudar isto urgentemente.
Acontece-me em vários sítios, ficarem a olhar para mim sem se mexerem, a ver que tenho um olho para cada lado e mais uma data de coisas.
Olham para nós como se fossemos doentes, fantasmas, parvos e estúpidos.
Já para não falar daqueles que gozam e magoam.
Nunca sofri na pele essa descriminação do gozar, talvez porque eu mesma me ria de mim e desdramatizava as coisas.
Nunca escondi a minha saúde, nunca fiz dela tabu.
Sempre fui a psicóloga dos amigos e nunca admiti que me reduzissem por não ouvir ou por não ver tão bem como eles.
Nunca deixei.
Agora quando vejo crianças e pais a viver numa redoma, que parece que afastam as crianças de pessoas doentes, de deficientes e etc… a minha vontade é falar. Porque é injusto, porque o Sol quando nasce é para todos, que não somos melhores nem piores que ninguém, mas por favor evitem fixarem-nos todos nos olhos durante minutos e segredar aos ouvidos uns dos outros.
Nós sentimos isso. E por muita auto-estima que tenhamos, isso magoa-nos.
Queridos pais, no jantar de Natal reúnam as vossas crianças, falem das diferenças sem medos, desdramatizem e não façam tabu, normalizar é incluir. Apresentem gordos, magros, cegos, surdos, deficientes, mudos, tetraplégicos e todo o tipo de diferenças e ensinem-nas a lidar com isso ou pelo menos, a respeitar sem olhares fixados e dedos apontados.
Acreditem não fomos nós que escolhemos as nossas doenças.
Respeitar é incluir.
E não se esqueçam, estamos todos sujeitos ao mesmo.
Façam a vossa parte! Deem esse presente de Natal.
O mundo agradece!
E nós também!
Nita Domingos
1 Comentário
Palavras sentidas … fiquei com uma lágrima no canto do olho 🙂 Sou tio de um menino especial e pai de dois filhos e na nossa família sentimos estas palavras como sendo as nossas. Falar das diferenças é o primeiro passo para a tão desejada inclusão mas, para que esta se concretize, é necessário que, desde o Estado aos media, todos encarem esta questão sem tabus !